“O PRETO E O BRANCO”

O QUE FIZEMOS, O QUE ESTAMOS FAZENDO COM A BELEZA, O SIGNIFICADO E IMPORTÂNCIA DESTAS CORES?

O QUE ESTAMOS FAZENDO?

NOSSA ESTUPIDEZ, NOSSA IGNORÂNCIA, NOSSA PREPOTÊNCIA, NOSSA INSENZATES, HERANÇAS TERRÍVEIS DO PASSADO, CRUÉIS, NOS ENVERGONHA, NOS IMPREGNOU, ME DILACERA MEU CORAÇÃO, ENVERGONHADO.

NO QUE ESTAMOS NOS TRANSFORMANDO? NÃO SEI, VOCÊS SABEM?

QUEREM NOS TRANSFORMAR, PRETOS E BRANCOS, BRANCOS E PRETOS TODOS EM “SENHORES”, NÃO, NÃO SEREMOS, ME RECUSO. RECUSEM.

AS CORES UNIDAS, JUNTAS, SEM QUALQUER DISCRIMINAÇÃO, SEM DISTINÇÃO, MOSTRANDO BELEZAS, UNIÃO CONJUGAÇÃO, APARÊNCIAS. HARMONIA, ALEGRIA E PRINCIPALMENTE PAZ.

PORQUÊ NÃO, NÓS, NÃO PODEMOS ACEITAR ESTA PODRE E POBRE DISCRIMINAÇÃO, NÃO PODEMOS.

ESTAMOS NOS TRANSFORMANDO EM ESCRAVOS DAS MENTIRAS, DOS ABSURDOS, DAS COVARDIAS, DAS HIPOCRISIAS, DOS HOMENS COVARDES DE QUALQUER COR, ONDE TENTAM IMPERAR A MALDADE DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL.

NÃO PODEMOS ACEITAR. NÃO PODEMOS.

NÃO ACEITEM. POR DEUS.

NÃO ACEITEM.

ESTAMOS MATANDO DE AMBOS OS LADOS PELA COR, ESTAMOS ELOUQUECENDO, ELOUQUECIDOS, DESCONTROLADOS, DESSENSIBILIZADOS, ESTAMOS NOS PERDENDO, ESTAMOS PERDIDOS.

OH. MEU DEUS, NÃO PODEMOS.

HOJE CORREMOS O RISCO TERRÍVEL DE NÓS PERDERMOS, PELA DISCRIMINAÇÃO COVARDE QUE VEM POUCO A POUCO NOS CERCANDO, NOS ENVOLVENDO, TENTANDO NOS DESTRUIR.

NÃO TEMOS A NOÇÃO DO QUE PASSARAM E O QUE SOFRERAM, SÓ TEMOS A IMAGINAÇÃO QUE TÃO POUCO NOS MOSTRA.

NO LAMENTO DOÍDO E NO CANTO TRISTE DO BLUES, ESTRIDENTES E LONGOS TOQUES DAS GUITARRAS, O SOM ÚNICO DOS CONTRABAIXOS E O TOQUE SUSSURANTE DA BATERIA, TOCA PROFUNDAMENTE MEU CORAÇÃO, ACHO QUE NÃO CONSIGO DIMENSIONAR A DOR SOFRIDA, A HUMILHAÇÃO, DESSE POVO, TENHO CERTEZA ORGULHO DE DEUS, QUE TAMBÉM DEVERIA SER NOSSO, DE TODOS NÓS.

E NO “REINADO DO ROSÁRIO”, “CONGADO” DOS ESCRAVOS, VEM MOSTRAR E PRECISAMOS ENTENDER E CURTIR A BELEZA DOS BATIDOS DOS SEUS TAMBORES - CAIXAS, DAS VIOLAS E VIOLÕES, DOS ACORDEONS – SANFONAS, GANZÁS, RABECA-VIOLINOS, PANDEIROS, CHOCALHOS, TOCADOS PELOS TERNOS COM SUAS CARACTERÍSTICAS ÚNICAS DE BATIDAS, DE SUAS DANÇAS E SEUS RITIMOS, DOS SEUS CANTOS SUPLICANTES REPRESENTANDO O LAMENTO AFRICANO, CONTANDO SUAS HISTÓRIAS, PRINCIPALMENTE NO CANTO A “NOSSA SENHORA”, ONDE DIZ:

SER BRANCO, SER NEGRO OU MULATO,

PERGUNTO MEU CARO SENHOR

SE SABE QUE NOSSAS ALMAS

NASCEM TODAS DA MESMA COR.

EM OUTRO DIZ:

SE EM TODO NEGRO, HÁ UM HOMEM,

EM CADA HOMEM UM IRMÃO.

NESTES HOMENS HÁ UM NEGRO

E NESTE NEGRO UM CORAÇÃO.

NÃO ESQUEÇAM TODOS TEMOS ALMA, TEMOS CORAÇÃO, TEMOS SANGUE QUE CORRE PELAS NOSSAS VEIAS, QUE DÃO A VIDA AOS PRETOS E VIDAS AOS BRANCOS, SOMOS IRMAOS, SOMOS AMIGOS, SOMOS, SOMOS O MUNDO.

AS AMIZADES SE FIZERAM PELOS TEMPOS E PELOS TEMPOS VÃO SENDO MANTIDAS, PRESERVADAS, CUIDADAS, SELADAS, ZELADAS, TEMOS AMOR, ESTAMOS NOS UNINDO, FRUTOS ESTÃO VINDOS, FILHOS DAS CORES BRANCAS E PRETAS, MISTURADOS NÃO PODEMOS NOS PERDER, TEMOS AMOR, TEMOS TUDO, TEMOS O MUNDO.

NÃO PODEMOS QUERER NOS TORNAR VÍTIMAS, QUALQUER UM PRETOS OU BRANCOS, NÃO PODEMOS,

NÃO PODEMOS PERDER E NÃO VAMOS PERDER. NÃO PODEMOS.

SOMOS PRETOS E BRANCOS, BRANCOS E PRETOS. PRETOS NOS BRANCOS E BRANCOS NOS PRETOS, SOMOS TODAS AS CORES. SOMOS ÚNICOS, SOMOS COLORIDOS, SOMOS PRETOS E BRANCOS, SOMOS IRMÃOS.

Plinio Elias de Araújo Oliveira

Sítio São Francisco de Assis

Divinópolis – Minas Gerais

Fevereiro de 2021